Com essa postura interna, você interpreta a vida não a partir de tudo que você já sabe, mas a partir de uma receptividade para aquilo que você não sabe e com uma atitude totalmente aberta. Essa qualidade é a chave da criatividade e da curiosidade na meditação e na vida.
Veja este poema:
“Um Dia da Verão” - por Mary Oliver
Quem criou o mundo?
Quem criou o cisne e o urso preto?
Quem criou o gafanhoto?
Este gafanhoto, eu falo:
Aquele que se lançou da grama,
Aquele que está comendo açúcar na minha mão,
Que está mexendo a sua mandíbula de um lado para outro em vez de pra cima e pra baixo
Que está observando tudo à volta com seus olhos enormes e complicados.
Agora ele levanta seus braços pálidos e lava o seu rosto inteiro.
Agora ele abre suas asas de repente e vai embora.
Eu não sei exatamente o que é rezar,
Não sei como prestar atenção, como cair a grama, ajoelhar nela,
Como ficar sem fazer nada e abençoado, como andar nos pastos sem preocupação,
Que é o que estava fazendo o dia inteiro.
Me disse, que mais que poderia ter feito?
Não é tudo que morre no final, e cedo demais?
Me disse, qual é o plano que tem para fazer com a sua única, selvagem e preciosa vida?
Essa poesia tem muitas qualidades ricas. Além da sinceridade e da contemplação, a poetisa mostra uma capacidade bonita de curiosidade sobre aquilo que a gente normalmente nem nota. Os movimentos do gafanhoto em sua mão, ela conta com tanta simplicidade e concentração. A gente quase sente aquele bichinho em sua mão. Você já ficou observando a natureza assim? Já parou para enxergar?
Temos essa capacidade. O objeto pode ser qualquer um. Porém, o processo é o mesmo. Se você já estiver praticando a meditação da consciência da respiração, talvez você já esteja descobrindo isso em relação à beleza da sua própria respiração.
Aos poucos podemos trazer essa qualidade para a natureza da nossa experiência inteira – dentro e fora de nós. O dinamismo de nossa experiência é impulsionado por forças muito profundas e muito complexas. O que somos vem daí: de nossas profundezas.
As forças inconscientes da mente são muito profundas e normalmente habituais. Para navegar melhor por meio dos altos e baixos da vida, necessitamos saber como influenciar essas forças de nosso ser, conscientes e inconscientes, de forma sábia e gentil. Claro, isso não é facil. Não adianta só mandar, como se fosse um comandante. Pior ainda, deixar a vida nos levar! Em primeiro lugar, temos que ter abertura para aquilo que acontece dentro de nós, seja o que for. Demora para conseguir cultivar uma consciência maior dos nossos impulsos internos. Porém, o corpo e a respiração são bons lugares para começar.
Um amigo me contou uma fato ocorrido no trabalho dele. Ele é um membro de uma equipe que ensina meditação nas prisões de máxima segurança na Inglaterra. Um dia, quando chegou à prisão para dar a aula, percebeu uma atmosfera diferente. Algo tinha acontecido.
O grupo de prisoneiros reuniu-se com ele e começou a contar sobre a semana que passou. Quando o maior prisoneiro (e mais perigoso) começou a falar, foi bem claro afirmando que alguma coisa realmente tinha acontecido.
Esse prisoneiro disse que durante a semana, fez a consciência da respiração todos os dias. No dia anterior a essa reunião, um outro prisoneiro começou a brigar com ele na sala de refeição. Então, pegou o cara pela camisa, levantou-o, e olhou-o nos olhos – mas, a experiênica de olhar nos olhos de um outro foi totalmente nova para ele. Alguma coisa ocorreu. Ele parou antes de bater no sujeito e fez algo novo. Ele colocou-o no chão, pegou sua comida, foi para a cadeira e comeu em silêncio.
Fonte: Stephen Little/Vya Estelar/Uol
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